Revista Música Brasileira

Quando Alice me ligou pedindo pra escrever o texto deste trabalho e me disse que o repertório era todo de Ary Barroso, eu já me animei. Ary é daqueles compositores cujo repertório só permite ao selecionador a opção de acerto. Impossível escolher errado, só deixou pérolas. Tive a sorte, durante minha vida, de lidar com as belezas deixadas por Ari, fazendo arranjos e acompanhando grandes intérpretes. Um desses trabalhos foi o derradeiro registro de nossa gigantesca e divina Elizeth Cardoso: Ary Amoroso. Por tudo isso fico bem à vontade pra falar desta realização e, confesso, gostei muito!
Pra começar eu não conhecia com a devida profundidade os violões de Maurício Massunaga e André Siqueira, embora tenha sempre ouvido falar muito bem deles. Agora eu posso falar: são duas feras e mais que isso, parece que passaram a vida tocando juntos. Sincronia perfeita, de toques e pensamentos, embora seus estilos venham de escolas bem distintas. Isto é muito difícil de acontecer com dois violonistas, mas pra eles parece tudo fácil. As soluções rítmicas e harmônicas encontradas para a variada paleta de cores existente na obra deste genial compositor, foram sempre de extremo bom gosto, limpas, precisas, e este foi mais um golaço da dupla André e Maurício. É sempre muito bom ver acontecer um acompanhamento ativo, presente e que, ao mesmo tempo, oferece ao canto o espaço necessário para que ele se espraie, e assim foi. Alice cantou o tempo todo acolhida, inteira, como eu nunca tinha ouvido.
Faz tempo que Alice vem cantando bonito, mas este registro revela um passo adiante no seu amadurecimento. Precisa, afinada, elegante e delicada, ela caminha pra ser uma das principais cantoras da música brasileira.
O som das gravações é lindo, canto, acompanhamento e solos, idem.
No meio de tanta grosseria rolando por aí, acuados pela violência de uma pandemia, enfim, encontramos luz no fim do túnel. É muito bom descobrir parceiros de um Brasil generoso e musical. Agradeço a vocês por isso. Obrigado, Alice, André e Maurício.