Especial

Peça sobre Chico Rei reedita parceria entre Paulo César Pinheiro e João das Neves

Por Mary Debs - 08/11/2011

“Galanga, Chico Rei”, um espetáculo musical afro-brasileiro com texto e músicas de Paulo César Pinheiro e direção de João das Neves, estreia no Teatro do Jóquei no dia 18 de novembro, onde fica em temporada até 18 de dezembro. Depois segue para Belo Horizonte em janeiro, com apresentações no Tambor Mineiro.

O espetáculo traça um panorama da fabulosa história da vida de Chico, rei de uma tribo do Congo que é trazido como escravo para o Brasil e torna-se herói. Na peça usa-se a congada - bailado dramático tradicional em vários estados brasileiros, principalmente em Minas Gerais, em que os figurantes representam, com cantos, danças, cortejos, cavalgadas, levantamento de mastros e muita música, a coroação de um rei do Congo, mesclando cultos católicos com africanos. Estes rituais são dedicadas à protetora tradicional dos negros no Brasil, Nossa Senhora do Rosário, e vários santos negros, especialmente São Benedito e Santa Efigênia.

Ao mesmo tempo, “Galanga, Chico Rei” revê a história tradicional do nosso país e da nossa cultura sob o prisma da identidade afro-brasileira. E usa a tradição oral em cena com as várias versões de uma mesma história contadas, muitas vezes, de forma simultânea. No elenco, só atores que moram em Minas, onde aconteceu a maioria dos ensaios: Maurício Tizumba, Alysson Salvador, Bia Nogueira, Denilson Tourinho, Evandro Passos, Everton Coroné, Felipe Gomes, Kátia Araccelle, Lucas Costa, Maíra Baldaia e Rodrigo Jerônimo. O cenário reproduz cenicamente um quartel de congadeiro, local onde se faz as festas e cerimônias, apresentando algumas formas dos 7 termos fundamentais do congado e suas coreografias.

O espetáculo repete a parceira entre Paulo César Pinheiro, João das Neves e Maurício Tizumba iniciada no premiado Besouro Cordão-de-Ouro em 2006 e dá continuidade à pesquisa e à linguagem desenvolvidas naquele musical – que mostrou inovação na temática, na música e na linguagem cênica, resultando em turnê de quatro anos, o prêmio Shell de melhor música e diversas críticas entusiasmadas em todo país. Ao longo da temporada, a equipe aprofundou sua relação com a linguagem e o trabalho em conjunto que resulta agora nesse segundo projeto.

Paulo César Pinheiro tem se aprofundado na composição para ritmos tradicionais, como a capoeira e agora a congada, valorizando e revelando a riqueza e as múltiplas possibilidades desses ritmos. Paulo César foi indicado ao prêmio Faz Diferença do Jornal O Globo pela gravação das músicas de Besouro Cordão-de-Ouro, lançado em CD no ano passado pela gravadora Quitanda, de Maria Bethânia. Galanga, Chico Rei, também traz sete composições inéditas (no total são 10), desta vez em ritmo de congada, a música da festa do congo. João das Neves, diretor do espetáculo, tem relação estreita com a congada - sendo ele próprio congadeiro – e participa anualmente da Festa do Congo de Oliveira.

– “Chico Rei está me proporcionando consolidar a parceria com o Paulinho, que foi muito rica no Besouro. E a oportunidade de um encenador como eu de trabalhar com um poeta maravilhoso como ele é única. Espero que se dê ainda muitas outras vezes. Além disso, estou tratando de elementos da cultura negra que são muito próximos a mim, o que me dá um certo conforto em tudo que estamos criando juntos”, descreve o diretor.

Mauricio Tizumba, que também repete parceria iniciada em Besouro Cordão-de-Ouro, interpretará Pai Grande, único personagem fixo da peça, pois a história será contada por todos, já é batizado no assunto. Cresceu no Bairro Nova Esperança em Belo Horizonte/MG e recebeu a tradição dos parentes que vieram do interior. "Nasci escutando tambor em terreiro de congado”, declara. Tornou-se capitão da Guarda de Moçambique, um grupo que celebra o congado, com o qual se tornou um dos mais importantes defensores da preservação de sua história.

”Do famoso Chico Rei, nossa história oficial não conta muita coisa. Não existem documentos a seu respeito. Há romances que são inventados. Mas, a história de Chico Rei é verdadeira na medida em que ela representa coisas acontecidas com muitos negros escravos. Este espetáculo resgata o mito pela figura do Pai Grande que conta a história de Chico Rei aos jovens congadeiros, evocando e valorizando a tradição oral para a reconstrução de nossa história”, explica Paulinho Pinheiro.