Especial

Paula Morelenbaum: viva ela e viva ele!

Por Luís Pimentel - 16/09/2008

Paula e bossa nova sempre foram farinha do mesmo saco, desde os tempos em que a menina Paulinha e futura Morelenbaum cantava ao lado de Tom Jobim – participando das gravações dos discos mais importantes do maestro (Passarim e Antônio Brasileiro entre eles) e correndo o mundo ao seu lado. Desde que Geraldo Pereira cantou a pedra para João Gilberto, ao compor Bolinha de papel, que quem entende de bossa também manja de samba, e vice-versa. Daí, do bim-bom ao telecoteco, neste manancial da MPB, é um pulo. Ou um mergulho.

A grande cantora que mais tarde o Quarteto Jobim Morelenbaum confirmou mostrou a que veio um pouco antes, no comecinho da década de 80, ainda no grupo vocal Céu da Boca. Entre os discos do Céu, de Tom, do Quarteto, o primeiro do cd solo Paula Morelenbaum (Camerati), os songbooks de amigos e as excursões cada vez mais bem sucedidas e para destinos a cada dia mais longínquos (o Japão já virou quintal de casa), a carreira solo ganhou estofo com o trio intercontinental que forma com Ryuichi Sakamoto e Jaques Morelenbaum (Casa e A day in New York).

Do Berimbaum (Mirante/Universal Music), lançado em 2004, forte injeção de bossa nova na veia, onde as obras-primas do gênero – Insensatez, Brigas nunca mais e Você e eu entre elas – estiverem representadas e foram defendidas pela voz de uma Paulinha no auge da forma, até este Telecoteco – um sambinha cheio de bossa... (Mirante/Universal Music) de agora, o caldeirão fumegante do bom e velho samba ferveu.

Telecoteco abre com um teleco moderníssimo do arranjador do momento, Antonio Pinto, à moda do djs, dando a impressão de que a faixa está arranhada. Não está, pelo contrário. Realça a maciez da melodia de Luiz Bonfá para versos certeiros de Antonio Maria, em Manhã de carnaval, numa interpretação muito delicada. O piano maravilhoso e brasileiríssimo ao fundo, creia, é de Sakamoto. Ali já é preparado o teco das harmonias para a entrada triunfal da cantora no samba propriamente dito, com o arranjo gostoso e balanceado que Beto Vilares criou para Não me diga adeus, de Luis Soberano, Paquito e João Correa Silva, onde as participações de Jacques Morelenbaum, criador da introdução que vai além, e do violão fino e virtuoso de Chico Pinheiro se destacam.

Daí em diante, há um desfile de grandes sambas brasileiros, como O samba e o tango, de Amado Régis (aqui, a participação especial é do grupo Bajofondo, que tem o compositor Gustavo Santaolalla na sua formação), Sei lá se tá (Alvaiade e Zé Maria), o arrumadíssimo Você não sabe amar (Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima) e o intencionalmente desarrumado Luar e batucada (Tom Jobim e Newton Mendonça), pois é claro que Tom não poderia faltar.

Tudo isto, entre outras e mais outras, como pede um bom disco de samba, passando por um mimo ao idioma de Shakespeare, com Love is here to stay, de George & Ira Gershwin (aqui enriquecido pelo piano charmoso e o suíngue à la “bossasalsa” de João Donato), o balanço e delícia da canção título do disco, Teleco-teco (“Você não se dá ao respeito/Assim desse jeito isso acaba mal”, de Murilo Caldas e Marino Pinto, granulado pelo arranjo intimista e a voz especial de Paula.

Especial? Isto mesmo. É só ouvir, para ver se vai resistir ao charme vocal da moça e às participações especialíssimas dos bambas convidados.

Viva ela e viva ele, o samba!