Especial

O samba delicado de Teresa Cristina

Por Daniel Brazil - 11/10/2007

Os fãs de Tereza Cristina, que não são poucos, têm razão pra comemorar. Sempre com o grupo Semente, que a acompanha (ou do qual faz parte) há anos, ela retoma no último disco (Delicada, 2007, EMI) a mescla de sambas novos, releituras de clássicos e um clima de refinamento sambístico que dá continuidade ao seu trabalho mais autoral, “A Vida Me Fez Assim”, de 2004.

Depois da homenagem a Paulinho da Viola, que embora bem sucedida comercialmente foi um retrocesso na carreira (Paulinho precisa ser resgatado? Ora!), a cantora se apruma e retoma a linha que cultiva desde o início nos palcos da Lapa, há dez anos. Não vai atrás de novidades pop, não tenta alterar o samba tanto assim, mas arrisca gêneros próximos, refina suas qualidades e abre espaço para os músicos. Há uma faixa instrumental (o belo choro-maxixe João Teimoso) e as vozes de Pedro Miranda (Quebranto) e Trambique (Jura).

A parceria com Argemiro Patrocínio (Fim de Romance) demonstra a naturalidade com que a cantora dialoga com o samba de fina estirpe da velha guarda. Da Portela, no caso. Esta é a praia onde brilha com desenvoltura, mas também é bom ouvi-la interpretando João do Vale (Pé do Lageiro) ou Carrinho de Linha (do baiano Walter Queiroz), acompanhada por uma sanfona bem tocada, ou ainda a faixa título, Delicada, uma quase bossa (Teresa Cristina/ Zé Renato). Até Gema, de Caetano, soa bem mais uma vez.

Estranho é ver a cantora na contramão de toda a safra de independentes, assinando com uma multinacional. Se boa parte das queixas de “falta de liberdade” estiverem certas, Teresa terá problemas. Mas se este contrato lhe abrir portas, a Lapa carioca poderá apostar na carreira internacional de sua estrela. Perdas e ganhos só serão devidamente contabilizados daqui a algum tempo.

Por enquanto, podemos nos deliciar com a voz quente e cada vez mais madura da cantora, que se completa com a excelência do grupo Semente. “Delicada” é disco de grandes interpretações, onde o talento indiscutível de Teresa Cristina areja e perpetua o samba clássico, trazendo-o para a trilha sonora de nosso tempo sem a poeira do saudosismo.