Especial

"O menino de 47": 70 anos do Império Serrano

Por Alberto Buaiz Leite - 27/03/2017


     “Menino de 47/De ti ninguém esquece/Serrinha, Congonha e Tamarineira/Nasceu o Império Serrano/O reizinho de Madureira”. Estes versos de Nilton Campolino e Molequinho retratam a fundação de uma escola de samba que brilha no Carnaval carioca e hoje comemora 70 anos de existência.


     A história do Império Serrano, sempre, esteve ligada aos princípios de justiça e liberdade, muitas vezes desrespeitados em nosso país. O Império foi fundado a partir de uma dissidência, na escola Prazer da Serrinha, presidida por Alfredo Costa, funcionário da Central do Brasil, pai de santo e jongueiro. Era uma figura respeitada mas, ao mesmo tempo, criticada por sua maneira de agir e de dirigir a escola, sempre com muito autoritarismo e sem ouvir as sugestões da comunidade. O descontentamento dos sambistas da Serrinha chegou ao auge, em 1946, quando a escola ensaiou o samba”Conferência de São Francisco”, de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, para contar um enredo, na avenida, o que era uma novidade naquela época. Em cima da hora, Seu Alfredo proibiu que o samba ensaiado fosse cantado e mandou a escola desfilar com um samba de terreiro, o que levou o Prazer da Serrinha a uma péssima colocação.


     Este fato determinou o “racha”. Silas, Mano Décio, Molequinho e outros companheiros reuniram-se na casa de Dona Eulália e fundaram, em 23 de março de 1947, o Império Serrano, uma escola que não teria dono, onde todos poderiam opinar. As cores foram escolhidas pelo compositor Antenor. O verde representando a esperança e o branco a paz. Seu primeiro presidente foi Eloi Antero Dias, líder comunitário e pai de santo. Mano Eloi, como era conhecido, com sua experiência teve importante papel na consolidação da nova escola.


     O trabalho destes imperianos foi, imediatamente, reconhecido. No seu primeiro desfile, em 1948, sagrou-se campeão e o feito se repetiu em 1949, 1950 e 1951. Nas décadas seguintes conquistou mais cinco títulos no grupo principal. Sua história é marcada por verdadeiros clássicos do samba de enredo como “Exaltação a Tiradentes” (Mano Décio-Penteado-Stanislau Silva-1949), “Aquarela Brasileira”(Silas de Oliveira-1964), “Os Cinco Bailes da História do Rio”(Silas de Oliveira-D. Ivone Lara-Bacalhau-1965), “Heróis da Liberdade”(Silas de Oliveira-Mano Décio-Manoel Ferreira-1969) e “Bumbum Paticumbum Prugurundum”(Aloisio Machado-Beto Sem Braço-1982).


     O Império Serrano deixou, em sua memória, nomes consagrados como Mestre Fuleiro, seu maior diretor de Harmonia, Aniceto do Império, o melhor representante do partido alto e Noel Canelinha, exímio mestre-sala que defendeu a verde e branco entre 1951 e 1970. Vale lembrar que a colocação do mestre-sala e da porta-bandeira, no meio da escola, foi uma inovação dos imperianos.


     O “menino de 47” tornou-se um senhor de 70 anos, pleno de dignidade e sabedoria e um legítimo representante do samba e do Carnaval, no Rio de Janeiro. Isto foi comprovado, este ano, quando foi campeão no grupo de acesso e, certamente, o Império Serrano fará um brilhante desfile, em 2018.