Especial

Não tem jeito. Eu também sou tiete do Chico

Por Claudio Jorge - 31/01/2012


Meu ano de 2011, na maioria dos aspectos, terminou muito bem, mas o mico botafoguense no campeonato brasileiro foi dose e despertou em mim um certo pessimismo em relação ao ano seguinte.

Aí 2012 começa com o novo Big Brother, com direito a suspeita de estupro e outras baixarias mais; o maior canal de televisão do Brasil compra os direitos do festival de pancadaria travestido de “esporte formador de caráter”, o UFC; o mesmo canal abre finalmente os braços para o mercado fonográfico religioso, a música de sucesso nas paradas fica martelando “ai se eu te pego” e três edifícios desmoronam no Centro do Rio de Janeiro causando vitimas.

Cheguei até a escrever uma crônica onde eu falava das minhas causas que eu considerava perdidas. Além do Botafogo, falava do direito autoral, da profissão e do mercado de música no Brasil, do racismo e por aí vai. Mas aí desisti de publicar. O pessimismo é um sentimento rejeitado por todos os níveis, desde o religioso, até o idealista, o psicanalista, o financeiro e etc.. Estava quase publicando a bad crônica no meu blog quando cheguei a conclusão que o pessimismo só deve ser praticado em ato de solidão e quando você já estiver satisfeito, sai da toca para o mundo com aquele sorriso nos lábios praticando o positivismo nas suas relações sociais e de trabalho.

Neste processo, meu amigo Wilson das Neves me convida para assistir ao show do Chico Buarque onde ele é um dos destaques, e aí meu amigo, confirmei que ainda existem muitos motivos para continuarmos otimistas em relação a cultura brasileira neste momento em que tudo o que é nacional é colocado no fundo do quintal e o que é global ocupa o espaço da casa grande.

Quero deixar bem claro que estou aproveitando o show do Chico para me referir ao mundo dos grandes espetáculos, dos grandes eventos, dos grandes negócios na indústria da música. Estou me referindo as grandes produções apoiadas pelos grandes meios de comunicação e capazes de mobilizar o gosto popular na formação de platéias.

Porque no plano menos favorecido do acesso ao público, o exército de batalhadores é grande e de qualidade inestimável espalhado por todo o Brasil em plena atividade mas , na sombra.

O grande barato do imperdível show do Chico é a coerência artística que ele revela. Além das músicas do novo disco, alguns sucessos antigos terminam por compor um pequeno painel do universo de composição do Chico Buarque, onde lá estão contemplados vários ritmos brasileiros, harmonias e melodias cuidadosamente trabalhadas, além de uma literatura em forma de letra de música, espetacular. Além disso uma gritante demonstração do Chico que não tem a menor intenção de se acomodar no óbvio estético, e que não está nem aí para as exigências do mercado,feito um cara que conheço chamado Martinho da Vila.

O show do Chico é um recital, muito bem iluminado, belo cenário, sem grandes efeitos, sem bailarinos, sem fumaça no palco, onde o assunto principal é a música. Não que eu ache que todo grande show tem que ser assim, mas alguns shows poderiam ser assim, não custa nada.Percebe-se que todo o trabalho é muito bem planejado e ensaiado,levando-se em consideração os limites que o artista realmente tem no que se refere a sua presença no palco.

No final, o jeito tímido do Chico ocupa todo o espaço e termina por contagiar uma platéia de forma arrebatadora, que canta junto as músicas do disco novo, mesmo elas não tendo execução nas rádios.

O novo ano que se inicia está salvo.Espero que eu não tenha que esperar mais cinco anos pelo novo disco do Chico para curtir estes momentos que curto agora.

Quanto ao Botafogo, vamos ver como a Estrela Solitária vai se comportar em 2012.


Claudio Jorge é cantor, compositor e violonista