Especial

Elisa Addor em tempos de Novos Tempos

Por João Cavalcanti - 16/09/2011

Uma vez, há muitos anos, vi Elisa cantando. Não a conhecia, e lembro de ter ficado impressionado com sua precisão, com seu bom gosto e com a beleza do timbre de sua voz.

Ficamos amigos e, por circunstâncias diversas, fiquei muito tempo sem ver Elisa cantar. Um dia fui ao Semente e novamente me impressionei. Àquelas virtudes que ela já carregava consigo, haviam somado-se um domínio de cena e uma personalidade extremamente magnética. Elisa, então, tornara-se um exemplo raro de cantora que usa a excelência técnica a serviço da emoção.

Elisa poderia ter lançado seu disco de estreia alguns anos atrás, mas na nossa Lapa gravar um disco demora a ser prioridade. A rotina da noite, ao mesmo tempo que nos consome aos pouquinhos, nos empresta verdade e nos deixa curtidos. Por isso mesmo, seu debute vem exatamente quando tinha que vir, do jeito que tinha que vir.

Edu Krieger, produtor do disco, teve a perspicácia de perceber que Elisa não precisava de subterfúgios e registrou sua interpretação como se cantasse ao vivo, sem recursos de pós-produção. As raríssimas imperfeições são como testemunhas da verdade. São a garantia de que não haverá a irritante distância, tão comum hoje em dia, entre a cantora-de-disco e a cantora-de-palco. Havia imperfeições, afinal, nas vozes de Elis, de Clara, de Billie, de Nina, de Edith, justamente por todas essas deusas da voz terem tido o privilégio de ser humanas.

"Novos Tempos" é um mosaico retrospectivo da carreira de Elisa. Tem algumas músicas de sua autoria, algumas de autoria de contemporâneos nossos, algumas pérolas de gênios estabelecidos da nossa música. Fica claro que a escolha do repertório do disco seguiu exclusivamente o critério da beleza - além, é claro, do envolvimento afetivo de Elisa com cada uma das canções. É uma peça fina, um artigo raro, um retrato íntimo de uma cantora pronta, ainda que em formação.

O lançamento do CD Novos Tempos no Rio de Janeiro será no dia 22 de setembro, no Espaço Cultural Sérgio Porto (Rua Humaitá, 163), às 21h.