Especial

Colecionando lembranças boas

Por Marcio Paschoal (*) - 27/04/2016

Fugindo do clichê das tradicionais coletâneas de sucessos, a cantora e compositora carioca Marisa Monte opta por um formato mais eclético e original, reunindo material que ela gravou fora de sua carreira principal, com parceiros ou sozinha, e que nunca haviam sido incluídos em seus discos até o momento, além de trilhas sonoras de filmes e canções autorais menos conhecidas.


Depois de cincos anos de seu úlitimo disco de estúdio “O que você quer saber de verdade” , Marisa grava seu primeiro trabalho pela Universal e já corre pela internet a música de trabalho “Nu com a minha música, de Caetano Veloso, canção retirada do disco beneficente “Red Hot + Rio 2” (2011), cantando com Devendra Banhart e Rodrigo Amarante, e que abre o álbum.


A seguir, a inédita em disco, “Cama (Uma palavra)”, da trilha sonora do filme “Era uma vez”, de Breno Silveira, parceria com Carlinhos Brown.
De Caymmi e Jorge Amado, o clássico “É doce morrer no mar”, em dueto com Cesária Évora. Um momento marcante A quarta faixa, “Carinhoso”, de Pixinguinha, trilha sonora do filme “Meu tempo é hoje”, Marisa canta ao lado de Paulinho da Viola.
Na seguinte, originalmente lançada no disco “Nome” de Arnaldo Antunes, Marisa canta com ele “Alta noite”.
A próxima faixa, com Brown e Antunes, é “A primeira pedra”, do disco “Infinito Particular”, de 2006, com participação especial de Gustavo Santaolalla.


O dueto com Argemiro Portela, o samba “Dizem que o amor” que foi retirada do disco “Argemiro Patrocínio” foi uma escolha feliz e bem-vinda.
O álbum continua com a versão de “Ilusión”, de Julieta Vinegas, tendo sido gravada no disco “MTV unplugged”, de 2008.
A nona faixa é “Esqueça”, da trilha sonora do filme “A taça do mundo é nossa”, da turma do Casseta&Planeta e nunca lançada em disco.
Uma das melhores faixas, sem dúvida, o dueto com a cantora portuguesa Carminho, tirada do disco “Canto”, dela com Arnaldo Antunes, “Chuva no mar”.


A seguinte também é excelente , “Fumando espero”, de Juan Viladomat e Félix Garz, da trilha sonora do filme homônimo de Anna Muylaert.
A penúltima foi pinçada do disco “Tudo Azul”, da Velha Guarda da Portela, que foi produzido por Marisa , uma composição de Manaceia e Áurea Maria, “Volta meu amor”.
Encerrando, a canção “Waters of March”, versão em inglês do clássico jobiniano, em dueto com David Byrne.
A capa do álbum “Coleção” é uma pintura de Marisa Monte, assinada pelo artista plástico italiano Francesco Clemente.


Segundo a cantora, a coletânea “Coleção” é um reflexo de sua memória afetiva, uma espécie de leitura íntima e emocional, em que cada canção escolhida representa um pouco de sua história, traz boas lembranças e materializa os encontros e as relações que a música e a arte lhe proporcionaram ao longo desses quase 30 anos de carreira.
Na verdade, não são muitos artistas que podem se dar a esse luxo: fugir do óbvio e se descolar dos dítames batidos do mercado. Marisa pode.
(*) Escritor, autor da biografia de João do Vale