Especial

Cláudio Jorge, o amigo de fé

Por Hugo Sukman - 25/11/2008

É o afeto que guia Cláudio Jorge pelos caminhos da música e da vida. Quem tem a honra e o prazer de conhecer esse músico (palavra que talvez faça jus a um violonista, guitarrista, compositor, letrista, cantor, produtor, agitador, pensador, escritor, crítico, boêmio, empresário...), carioca e botafoguense do Cachambi hoje docemente exilado numa ladeira de Laranjeiras e freqüentador obsessivo das vielas de Lisboa, saberá logo que não há pessoa melhor. Amigo de fé (Carioca Discos), seu terceiro disco autoral, é cristalino reflexo disso: a transformação dessas duas palavras, "amigo" e "fé", em sambas e canções, tudo guiado com muito talento e sinceridade pelos caminhos do afeto.

Se no CD anterior, a obra-prima "Coisa de chefe" (Carioca Discos, 2001), o tema e o motivo eram o samba, ou o como fazer um samba ao mesmo tempo moderno e eterno no século XXI, neste Amigo de fé, tema e motivo são as relações que dão sentido à vida. Cada letra, cada música fala disso, cada músico (os melhores do Brasil na atualidade), parceiro ou artista participante chegou aqui pelos caminhos da amizade e do trabalho diários. Tudo, de cada canção à forma de produção independente, é resultado, de fato, da vida. Daí a sinceridade que salta aos ouvidos de uma música feita com calma, no decorrer do tempo, sem a pressa do profissionalismo, mas com o alto nível de exigência deste.

Mas mesmo a mixagem – algo normalmente tratado de forma fria, técnica – aqui ganha ares de encontro. Há primeiro um encontro real, com o velho amigo e parceiro Guilherme Reis, sócio de Cláudio Jorge na gravadora Carioca Discos, um dos maiores engenheiros de som e mixagem da música brasileira. E há, na mixagem, um encontro do violão e das harmonias de Cláudio Jorge com as vozes e a percussão. Ouçam Estrelinha e Conchinha, ou qualquer faixa de Amigo de fé, e tentem lembrar de uma mixagem mais generosa para o instrumento do compositor e sua canção (Afinal, o que se esperava de um disco do maior violonista de samba? Não seria o seu violão?).

Assim como a mixagem, a capa fotografada por Bruno Veiga é também resultado de afeto, de uma longa parceria entre o compositor e o fotógrafo, autor de todas as capas da Carioca Discos e hoje seguramente o fotógrafo mais dedicado ao samba no Rio de Janeiro.