Especial

César Faria, mestre de três gerações

Por Daniel Brazil - 22/10/2007

Na noite de sábado (20/10/2007) o coração do grande violonista César Faria, pai de Paulinho da Viola, fez uma pausa de mil compassos. O Brasil perdeu um de seus maiores violonistas, aos 88 anos. Músico de refinado toque, seu grande conhecimento harmônico o tornou um dos acompanhantes preferidos por grandes solistas. O maior, sem dúvida, foi Jacob do Bandolim, com quem formou o histórico grupo Época de Ouro, junto com Dino 7 Cordas e outros bambas.

Muito da aclamada elegância musical de Paulinho foi herdada do pai. Além do gosto pelo choro, seu César soube transmitir o toque suave, sutil e sofisticado que era sua marca registrada. Ninguém esquecerá os longos anos em que acompanhou Paulinho, em shows e gravações. Bastava os olhares se cruzarem, e um entendia para onde ia o violão (ou o cavaquinho) do outro.

Recentemente a mão começou a cansar, e teve o posto assumido pelo neto João Rabello, que também reconhece a influência do avô no seu estilo. Como diz Paulinho, “sempre fiz questão de ressaltar a beleza das harmonias, da levada deste violão”, ao explicar porque não precisava de um 7 cordas na sua banda.

De fato, o violão de César preencheu e deu uma textura especial aos discos do sambista. E nos raros momentos em que se exibiu solando, mostrou que quem é mestre na escola do choro tem diploma de samba válido em qualquer roda do planeta. Basta ouvir os bordados sonoros de “Pra Que Mentir”, obra-prima de Noel que Paulinho canta de forma inesquecível, no disco Memórias: Cantando”, acompanhado apenas por “seu” César. Inesquecível e irretocável. E a partir de agora, eterno.