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Villa-Lobos, um clássico popular

Por Daniel Brazil - 01/07/2009

Heitor Villa-Lobos (1887/1959), o maior compositor brasileiro, era fã de música popular. Ainda jovem, viajou pelo Brasil recolhendo peças folclóricas que iriam alimentar por muitos anos sua vasta produção erudita. Na década de 20 participou de animados saraus no Rio de Janeiro, e a série de obras que escreveu para violão têm muito da linguagem do choro, do qual era fã assumido.

O Quinteto Villa-Lobos, um dos grupos mais respeitados no cenário brasileiro da música de concerto, acaba de lançar o CD Villa-Lobos Um Clássico Popular (Kalamata, 2009), com algumas das mais célebres composições do genial artista.

A célebre Ária da Bachiana Brasileira n° 5 abre o disco, em arranjo de Paulo Sérgio Santos. A melodia que cativou vozes líricas de todo o mundo teve muitas intérpretes da canção popular, de Elizeth Cardozo a Joan Baez. O Martelo, mais sacudido, ganha arranjo de Nelson Ayres.

Santos também arranja o delicado Lundu da Marqueza de Santos, escrito originalmente para canto e orquestra. A bela Valsa da Dor, criada originalmente no piano, recebe apaixonada interpretação do Quinteto.

O Trenzinho do Caipira não poderia faltar, claro. A impetuosa Tocatta das Bachianas Brasileiras n° 2 também teve intérpretes populares do porte de um Milton Nascimento, depois de receber letra de Ferreira Gullar. O arranjo de Jessé Sadoc Filho explora todos os recursos do quinteto, num resultado que certamente faria o compositor sorrir de satisfação.

Da grande obra Floresta do Amazonas foram extraídas a Canção do Amor e a Melodia Sentimental, esta em arranjo de Marcelo Bonfim. É outra melodia envolvente, que ganhou a afeição de cantoras populares, como demonstram as gravações de Zizi Possi e Maria Bethânia, entre outras.

Os intrincados Choros são considerados pontos altos da obra de Villa-Lobos. Choros n° 1, original para violão, recebe aqui arranjo de Caio Marcio, que também assina a versão da Ária da Bachiana n° 4, conhecida popularmente como Cantiga (Caicó). O Choros n° 2, originalmente escrito para flauta e clarineta, é levado com brilho por Toninho Carrasqueira e Paulo Sérgio Santos, músicos que transitam com desenvoltura entre as rodas de choro e as salas de concerto.

O CD é completado pelas cinco peças da Suíte Popular Brasileira, escrita para violão, recriadas aqui por Marcílio Lopes. Villa-Lobos escreveu choros impregnados de tradição européia, que recebem nomes como Mazurka-Choro, Valsa-Choro, Gavotta-Choro, Schotisch-Choro ou simplesmente Choro. Ou melhor, reinterpreta as formas clássicas com o espírito do choro.

Um belo disco, que nos faz repensar as fronteiras entre erudito e popular. E que não deixa dúvidas sobre a genialidade de Villa-Lobos e a alta qualidade do quinteto de sopros que ostenta seu nome.