Revista Música Brasileira

Três nomes do primeiro time da moderna música brasileira. Três representantes de vertentes distintas, de origem e formação bem diversa. André Mehmari mescla o erudito e o popular, e transborda sua musicalidade do piano para outros instrumentos. Chico Pinheiro é guitarrista elogiado, parceiro frequente de jazzistas do primeiro time mundial. E Sérgio Santos traz a musicalidade mineira nas raízes, tratada com requinte e delicadeza.

O encontro não rolou por acaso. O último CD de Sérgio Santos (o ótimo Litoral e Interior, de 2011) já contava com arranjos e orquestrações de Mehmari. Já existia uma evidente sintonia entre eles. E Chico Pinheiro, escolado em acompanhar bambas, se encaixou sem provocar marolas.

Os três dominam perfeitamente seus instrumentos, e Sérgio investe principalmente na voz. Apenas duas faixas têm letras, mas quase todas têm vocalises que colocam uma dúvida na cabeça do ouvinte: são canções ou peças instrumentais? Há quem implique, mas existem vários exemplos de artistas que tratam a voz como se fosse um instrumento, e isso pode ser assimilado na audição, sem prejuízo da forma.

Algumas participações especiais enriquecem a paleta de timbres: a clarineta de Gabriele Mirabassi, a bateria de Edu Ribeiro, o baixo acústico de Neymar Dias e a percussão de Guello. Tudo soa tranquilo, e o clima de relaxamento da gravação está presente em cada canção. O som rola calmo como um rio de planície. Cheio de curvas abertas, belezas ensolaradas em cada meandro, sem corredeiras.

Falta isso: um susto, aquele momento de surpresa que nos tira o chão, nos deixa sem ar. Mas talvez seja uma cobrança injusta. Afinal, seria ridículo alguém chegar para Monet e cobrar que em seus rios e lagos bordados de ninfeias houvesse uma cachoeira. A busca da beleza reflete também o estado de espírito do artista, seja pintor, músico, poeta ou cineasta. E como pode ser visto aqui, André Mehmari, Chico Pinheiro e Sérgio Santos compartilharam a criação deste CD em estado de graça.