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As tantas marés de Edu Lobo

Por Daniel Brazil - 04/03/2010

Edu Lobo, nome presente na música popular brasileira desde os míticos anos 60, é um homem de sorte. Filho do radialista e também compositor Fernando Lobo (Chuvas de Verão, Nega Maluca, Nasci Para Bailar), cresceu em ambiente musical.

O jovem Edu, de família nordestina, nasceu no Rio de Janeiro. Estudou acordeon por alguns anos, mas acabou optando pelo violão, em alta com o início da bossa nova. Bem relacionado, logo estava tocando com gente como Dori Caymmi e Marcos Valle, com quem fez algumas apresentações. Em 1962, com 19 anos, já era parceiro de Vinicius (Só Me Fez Bem).

Logo depois, ao conhecer Ruy Guerra, enveredou pela corrente mais politizada da época, ligada ao teatro e ao CPC da UNE. Fez parcerias com Gianfrancesco Guarnieri, Boal e Vianinha, além do próprio Ruy. Participou do Opinião e musicou Arena Canta Zumbi, de onde saiu seu primeiro sucesso nacional, Upa Neguinho, na voz de Elis Regina.

Elis acabou sendo fundamental para a sua carreira, ao vencer o Primeiro Festival de Música Popular Brasileira (1965), na TV Excelsior, com Arrastão. Voltou a vencer dois anos depois, com Ponteio, parceria com Capinam, interpretado por ele e Marília Medaglia.

No final da década excursionou com Sergio Mendes, e resolveu se fixar em Los Angeles. Mirando no mercado de trilhas sonoras de filmes, teatro e TV, estudou composição e orquestração. Pouco a pouco, a canção fonográfica foi perdendo espaço em sua produção autoral.

De volta ao Brasil, trabalhou como orquestrador na TV Globo. Gravou um disco com Tom Jobim (Edu & Tom) e investiu em trilhas sonoras de filmes e balés, encontrando um grande parceiro em Chico Buarque, com quem fez as suítes da obra prima O Grande Circo Místico, d’O Corsário do Rei, Dança da Meia Lua e Cambaio.

Edu Lobo lançou há pouco tempo um CD (Tantas Marés, Biscoito Fino, 2010) com um apanhado de canções, que incluem quatro parcerias com Chico e seis letras novas de Paulo Cesar Pinheiro para composições já existentes, além de um frevo de 1980, com letra de Cacaso. Uma cuidadosa antologia pessoal, embebida por um certo espírito introspectivo. Em entrevistas, contou que uma fratura no braço o impediu de criar novas composições. Fez uma espécie de balanço musical dos últimos 30 anos, deixando de fora os sucessos sessentistas.

Claro que muitas canções ali presentes já tiveram interpretações melhores. Edu nunca foi um grande cantor. Mas é fácil notar o quanto seu parceiro Chico Buarque – tantas vezes acusado de ser um intérprete limitado! – é superior em canções como Ode aos Ratos ou Ciranda da Bailarina. Mais que isso: Chico não teme lançar mão de uma instrumentação mais moderna, com guitarras ou timbres sintetizados, em momentos essenciais.

A música de Edu, sempre digna, soa datada em 2010. Pena que o bom arranjador, com toda a formação que teve, resista a atualizar sua sonoridade. Abre mão de conquistar um novo público, preso a uma estética geracional cada vez mais histórica, para o bem e para o mal. Ele mesmo, em outros momentos, já ousou mais.