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Socorro Lira entre águas e desertos

Por Marcio Paschoal - 03/09/2014

A Amazônia não poderia estar em melhor companhia, revisitada pelo talento nordestino direto dos sertões do Brejo da Cruz. Uma delícia o novo trabalho da cantora e compositora paraibana Socorro Lira, o cd “Amazônia, entre águas e desertos”, com destaque para o belo projeto gráfico e a capa de Elifas Andreato.

Do início ao fim, 14 faixas que mostram o melhor do cancioneiro daquela região. Batuque, marabaixo, reggae, carimbó e valsa, tudo equilibrado e bem sonante. Tem a dança com os guerreiros do waiãpi, com letra de Joãozinho Gomes e o bolero autoral sobre os mistérios do desejo (flauta certeira de Enrique Menezes). Waldemar Henrique não poderia faltar em dois recortes mágicos, no “Uirapuru” do caboclinho falador, e no clássico “Tambatajá”. Não é fácil interpretar esta última. Inicialmente trazida á tona por Fafá, teve com a paraense Andrea Pinheiro seu melhor momento.

Socorro dá bem conta do recado, acompanhada por Jorge Ribbas. A saga da floresta, um alerta sob a forma de ponteio de Vital Farias, numa das melhores faixas. O reggae lento de “Porque é da natureza”(Cátia de França e Abel Silva) e a canção sobre texto de José Eduardo Agualusa, num cafuné da nega Xixiquinha, vindo das bandas angolanas, agradam em cheio. A genial “Gaia”, de Nilson Chaves com letra de Eliakin Rufino, está perfeita (...o rio vê, o vento sente, a chuva chora,o raio lê, o peixe sonha, a rosa dança, tudo é o mesmo ser...). Encerramos com o carimbó festivo-gastronômico, regado a tucupi, jambu e camarão, do “Tacacá”, de Luiz Gonzaga e Lourival Passos. Ponto de luz em sua carreira, um dos melhores trabalhos, sem dúvida, de Socorro.