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Questão de respeito

Por Lucio Carvalho - 17/03/2015

Como dificilmente deixaria de acontecer, na data que seria o aniversário de 70 anos de Elis Regina (17/03/1945 – 19/01/1982), inúmeras homenagens ganharam as páginas e telas da mídia de todo o Brasil. Nada mais justo, afinal ainda hoje Elis é um fenômeno de popularidade. E não há quem duvide, a essa altura do campeonato, que ela está no panteão dos grandes intérpretes da música popular brasileira. Mas há necessidade de que se procure tanto descolá-la das demais cantoras, sejam ou não suas contemporâneas?

Bom, qualquer criança hoje em dia sabe que vivemos em tempos "diferenciados" e que rankings são produtos de primeira necessidade em qualquer portal, revista, blog ou facebook que se preze. Por isso será muito difícil hoje, aniversário da Pimentinha, não encontrar seu nome encabeçando listas das melhores cantoras da Via Láctea. Ou até além disso.

Eu só acho que listas resumitivas e rankings são empobrecedores da cultura como um todo e, confesso, tenho até certa preguiça de explicar essa posição. Mas é isso! Listas são preguiçosas e parciais, that is the question. Basta resumir-se toda a qualidade num pódio e fim, pronto, mais um texto para milhões, bilhões de curtidas e compartilhamentos. Fácil, não?

Agora, em nenhum momento isso retira o valor descomunal de Elis para a música terráquea, porque dizer universal seria exagero até em se tratando de alguém que afirmou ser literalmente uma estrela, reafirmando-se com justiça num momento dos mais cruciais da sua vida, na tournée de O Trem Azul, pouco antes de sua morte.

Elis tem registros infinitos de sua qualidade vocal e de sua entrega interpretativa. Isso por si só a qualificaria a angariar o fanatismo de milhões de pessoas. Aqui no RS então, nem se fale. Mas é merecido, sem dúvida. É maravilhosa em registros que, se listados, lotariam páginas e páginas e páginas e páginas...

A seu lado, entretanto, outras tantas cantoras, compositoras e intérpretes merecem tanto crédito quanto Elis, embora seja impossível querer controlar o entusiasmo pessoal de alguém, qualquer um, ou suas preferências. E que é óbvio que não é disso que se trata. Outras cantoras tiveram seus grandes momentos também e duvido que a própria Elis não reconhecesse isso. Mais do que isso, Elis foi uma gigante nos ombros de gigantes que vieram antes dela e de outras que estiveram lado a lado, em seu próprio tempo.

Seria tarefa relativamente fácil reunir uma lista de gravações igualmente notáveis de outras cantoras brasileiras magníficas, mas quer saber?, por questão de respeito a essa estrela que tanto deu de si pela música popular brasileira e por gerações de compositores que cresceram sob sua égide, hoje vou apenas ouvir Élis, como diria o bom e velho Dick Farney, e tentar matar um pouco a saudade imortal.