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Paula Morelenbaum: com ela, a bossa se renova

Por Luís Pimentel - 03/05/2010

Uma das mais lindas vozes da música brasileira, a carioca Paula Morelenbaum já prestou inúmeras homenagens à bossa nova e aos grandes nomes do movimento – sobretudo a Antonio Carlos Jobim, uma de suas admirações e inspirador do quarteto onde a intérprete lapidou a carreira e o instrumento vocal (o Jobim-Morelenbaum). O disco novo de Paula, Bossarenova (Biscoito Fino) não sai do tom: abre os trabalhos exatamente com uma obra-prima do maestro soberano, Águas de março, para prosseguir com outra, a fortuita Chovendo na roseira – cuja gravação conta com um anestésico solo de flauta, a cargo de Axel Kühn.

Disco internacionalíssimo, registrando o primeiro encontro de Paula com a alemã SWR Big Band, de Stuttgart, e contando com produção e arranjos do super-pianista e compositor alemão Ralf Schmid, Bossarenova foi gravado tanto na Alemanha quanto no Brasil. Há uma mistura feliz de ritmos e de temas, que põe a dupla Lennon & McCartney (Blackbird), ou a impossível afinidade entre Villa-Lobos (Seresta nº 6) e Jorge Benjor (Mas que nada e Vem morena), tudo com cara de bossa nova. E como a cantora mesmo explica, a intenção foi exatamente “misturar sons”, no que acertou em cheio.

A possibilidade do sotaque alemão, que poderia marcar presença nos arranjos de Ralf Schmid ou nos sopros e bases da SWR, cai por terra quando o suingue mais brasileirinho impossível de Paula dá o tom, fazendo a gente escalar pedras e bater pernas na areia, com a comovente e sofisticada leitura de Tarde em Itapoã (Toquinho e Vinicius) ou no imaginário balanço de cadeiras com O morro não tem vez (Tom e Vinicius).

Bossarenova pode não significar exatamente uma renovação da bossa nova, mas é, seguramente, uma deliciosa homenagem à música brasileira (neste caso, especificamente a bossa nova) e aos músicos do mundo inteiro – entre eles, os vários craques que acompanharam Paula Morelenbaum nessa viagem.