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A outra praia de Swami Jr.

Por Daniel Brazil - 22/10/2007

A história do violão de 7 cordas brasileiro está fortemente entrelaçada com a história do samba e do choro. Difícil imagina-lo na mão de músicos dedicados a outros gêneros.

O paulista Swami Jr., egresso de grupos de choro e gafieira dos anos 80, como o Xoro Roxo e a banda Mexe Com Tudo, topou o desafio de levar o 7 cordas para outras praias. Depois de muitas gravações como músico acompanhante, arranjador e produtor, gravou o CD Ímã (Núcleo Contemporâneo, 2000) com o saxofonista Mané Silveira.

Sem excluir o samba e o choro do leque de influências, a dupla desfiou temas mais jazzísticos ou líricos, com um belo resultado. Explorando outras harmonias e ritmos, Swami apontou para um campo de possibilidades ainda não explorado pelos adeptos do assimétrico instrumento.

Antes disso, o estouro de Zizi Possi com a canção Bom Dia, em 2004, já revelava um compositor fortemente ligado à canção. Depois de acompanhar vozes, tão distintas quanto Ná Ozzetti, Rita Lee, Zé Miguel Wisnick, Tom Zé, Chico César, Vânia Bastos, Elza Soares, Zeca Baleiro, Vanessa da Mata, Lokua Kanza, Rita Ribeiro, Danilo Caymmi, Virgínia Rosa, Maria Bethânia, Luciana Souza e tantos outros, foi convidado para fazer a direção musical do último disco da grande dama da canção cubana, Omara Portuondo (Buena Vista Social Club).

Com este currículo, está claro que Swami não brinca em serviço. E seu novo CD (Outra Praia, 2007), que teve o patrocínio da Petrobras Cultural, mostra seu lado cancionista, desenvolvido com diversos parceiros. Para revezar com sua voz, miúda mas agradável, convidou Luciana Alves, Chico César, Vanessa da Mata, Zélia Duncan e Zeca Baleiro. O time se completa com os músicos Edu Ribeiro, Toninho Ferragutti, Chico Pinheiro e Zeca Assumpção.

As gravações valorizam as melodias, sem solos ofuscantes. É disco de compositor e arranjador, em primeiro lugar. O velho sucesso Bom Dia volta em surpreendente versão, onde a voz gutural de Marcelo Pretto e sua percussão corporal injetam novo sabor.

As faixas atravessam vários gêneros, do samba à bossa nova, dos ritmos quase-nordestinos aos quase-sulistas. Coisa de paulista sem identidade, poderia dizer um maldoso. Mas Swami não exercita um traço tipicamente paulista que é o experimentalismo, a canção esquisita, a algaravia urbana de concreto e máquina. Tudo soa civilizado, calmo, acústico, brasileiro.

O músico demonstra sua maestria alinhavando letra e música com capricho. Talvez falte uma pitada de invenção, mais evidenciada em seu trabalho com Mané Silveira. Felizmente, podemos apostar nossas fichas novamente: Swami prepara atualmente seu primeiro trabalho-solo com o violão de 7 cordas. Vem coisa boa por aí!