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Os Caprichos de Hamilton de Holanda

Por Daniel Brazil - 13/06/2014

Niccolò Paganini, um gênio do violino do século XIX, perpetuou sua obra através de 24 Capriccios que são, até hoje, um capítulo incontornável da história do instrumento. Não há estudante que não ambicione tocá-los, e não há mestre que não tenha suado frio antes de ousar gravar este monumento musical.

O bandolinista Hamilton de Holanda, virtuose aplaudido em todo o mundo no século XXI, resolveu compor também 24 Caprichos. Entenda-se como capricho uma forma musical livre, um exercício das possibilidades rítmicas, acústicas, harmônicas e históricas do seu instrumento. Preocupado em consolidar um repertório do bandolim de dez cordas, praticamente inventado por ele, divulgou faixas e partituras para donwload em seu site, com vídeos didáticos e dicas para estudantes.
(A partir desse momento, sugiro continuar a leitura desse artigo ouvindo as deliciosas criações de Hamilton de Holanda aqui: http://www.hamiltondeholanda.com/caprichos/#musicas. Abra outra aba no seu computador e aproveite as vantagens da tecnologia).
Hamilton conta que várias melodias surgiram durante exercícios de solfejo, ou seja, cantarolando. Alguns temas já haviam sido gravados, mas ele fez questão de estabelecer novas versões, adequadas ao projeto. Oito caprichos são para instrumento-solo. Nos restantes, Hamilton é acompanhado por músicos do calibre de André Mehmari (piano), André Vasconcellos (contrabaixo), Bebê Kramer (acordeon), Gabriel Grossi (gaita), Guto Wirtti (contrabaixo), Rafael dos Anjos (violão), Rogério Caetano (violão 7 cordas) e Thiago da Serrinha (percussão).

Por aí já dá pra notar que não é só música para estudiosos. Trata-se de grande música, com momentos líricos, passagens emocionantes e climas inspirados. O bandolinista presta homenagens a várias influências e referências musicais, explicitadas em nomes como Capricho Bachiano, Capricho de Pixinguinha, Capricho do Luperce, Capricho do Carmo (lembrando a cidade natal de Egberto Gismonti), Capricho de Raphael (Rabello, claro) ou Capricho de Donga.
Eclético, Hamilton de Holanda mostra que a música que admira não tem fronteiras geográficas. Brinca com os ritmos de cada canto do Brasil, e ainda passeia com sabedoria além das fronteiras, criando belezas como o Capricho Venezuelano, Capricho de Espanha, Capricho Retirante, Capricho do Sul, Capricho do Oriente ou Capricho de Índio. E inventa coisas belíssimas como Capricho da Lua, Capricho do Sol, Capricho de Chocolate ou o Último Capricho. Maravilhas do mundo da música, que podem assumir as formas de valsa, baião, choro, toada, samba ou simplesmente capricho.

São duas dúzias de caprichos, para relembrar o mestre italiano. Portanto, a leitura destas linhas vai terminar bem antes que a audição. Feche esta aba, abra os ouvidos e continue a apreciar a grande música de nosso grande bandolinista. Mais um gênio brasileiro que reafirma seu talento de forma generosa e definitiva. Evoé, Hamilton!