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O samba moderno de Virginia Rosa

Por Daniel Brazil - 26/07/2007

O criativo movimento que renovou a cena musical paulista, na década de 80, revelou um punhado de bons músicos, compositores e agitadores culturais. Uma das figuras de proa, o inquieto Itamar Assumpção, além de criador de grandes canções, se destacou pelo dom de se cercar por marcantes vozes femininas. Não por acaso, a primeira delas foi Virgínia Rosa.

A jovem paulistana do bairro da Casa Verde chamava a atenção na Banda Isca de Polícia quando, indicada por Na Ozzetti, assumiu o papel de crooner da histórica Banda Mexe Com Tudo. Difícil conhecer alguém em São Paulo que não tenha dançado nas saudosas domingueiras do Bar Avenida, onde Virgínia resplandecia ao lado de cobras como Toninho Ferraguti, Swami Jr, Toninho Carrasqueira e Tião Carvalho. Foram sete anos de sucesso, excursões à Europa, disco gravado na França, até 92.

O primeiro disco individual, Batuque, foi lançado em 1997. Produzido pelo amigo e parceiro Swami Jr, recebeu boas críticas e lhe valeu uma indicação ao prêmio Sharp como revelação. No repertório uma marca que mantém com coerência até hoje: a preocupação em revelar novas canções e autores contemporâneos, mantendo a base da tradição musical brasileira.

Os anos de aprendizado como crooner fizeram de Virgínia Rosa uma intérprete soberba. Assisti-la ao vivo é um privilégio inesquecível. Sua bela figura e sua performance cênica cativam qualquer platéia. O domínio perfeito dos gestos, a capacidade de envolver o ouvinte, a elegante sensualidade que imprime às canções amorosas foram registrados no segundo CD, A Voz do Coração, de 2002. Produzido por Dino Barioni, o repertório mescla com sensibilidade clássicos e modernos, apoiados em precisos arranjos de violões, guitarras e percussão.

Depois de uma aplaudida temporada de shows em homenagem a Clara Nunes (2003/2004), Virgínia Rosa chegou ao terceiro CD (Samba a Dois, Eldorado, 2006) com a sua maturidade artística confirmada. Aprimorando seu desempenho, Virgínia relê sambas consagrados de forma surpreendente (As Rosas Não Falam, de Cartola, vira tango!), redescobre jóias encobertas pelo tempo (Candeia, Baden Powell, Tito Madi) , revela lindos sambas de jovens compositores, como Luisa Maita, Tito Pinheiro ou Marcelo Camelo. E estende seu domínio vocal a gêneros vizinhos do samba, como a bossa, a canção pop brasileira e o fado.

Há pouco tempo, escrevi aqui na Revista Música Brasileira que o samba tem se renovado de forma surpreendente, e que estão errados aqueles que alardeiam sua estagnação. Ouvir os últimos trabalhos de Virgínia Rosa é a prova viva da vitalidade do gênero, em pleno século XXI. O samba de Virgínia é moderno, sofisticado, versátil e, ao mesmo tempo, comunicativo e encantador. Uma das maiores intérpretes brasileiras em atividade, há tempos merece a consagração de um público maior.