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O novo salto de Siba Veloso

Por Daniel Brazil - 03/02/2012

Siba surgiu no cenário musical brasileiro nos anos 90, com a ótima banda Mestre Ambrósio, mostrando que o movimento musical em Pernambuco não era só mangue beat. Recolocando a tradicional rabeca no palco com um colorido mais pop, revelou-se também bom compositor, de letras narrativas e fluentes, com nítida influência dos cantadores populares nordestinos.

Com a dissolução da banda, o mergulho na tradição se radicalizou. Saiu de Recife e radicou-se na Zona da Mata pernambucana, formando um novo grupo. Com a Fuloresta, Siba incorporou a sonoridade dos metais e se aperfeiçoou como arranjador, em cocos, cirandas e frevos arretados.

Aplaudido pela crítica e pelo público, Siba mostra que ainda aguarda surpresas no embornal. Lança no final de 2011o trabalho-solo Avante, onde deixa de lado a rabeca e naipe de sopros, empunhando a guitarra junto com um grupo compacto, meio roqueiro, meioesquisito, onde o baixo é substituído por uma tuba. Bateria e teclados completam o som, com algumas participações pontuais de outros instrumentos.

A poética continua delirante e inventiva, a inspiração dos ritmos pernambucanos está lá. Mas há eletricidade, invenção, timbres pop-sem-vergonha, bateria pulsante e pitadas debom humor. Produzido por Catatau, do Cidadão Instigado, reflete o momento pop de Siba.

A tentação de comparar com o trabalho-solo de Lirinha, outro que deu o salto do Cordel Encantado para o mundoem 2011, é grande. Ambos são provavelmente os mais talentosos letristas-poetas da nova música que vem do sertão nordestino. Mas os caminhos escolhidos são bem diferentes, e Siba Veloso soa mais maduro, trabalhando as formas musicais com humor e maestria. Lirinha é mais psicodélico e pesado, o que deve agradar a um público mais jovem e roqueiro.

De qualquer modo, Avante está aí para brilhar. Um cantador sertanejo e universal, marinheiro da caatinga, cirandeiro plugado e cangaceiro dos 7 mares e instrumentos.