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A nova bossa da Casa 7

Por Daniel Brazil - 14/08/2012

Uma das grandes encruzilhadas estéticas que todo jovem músico enfrenta no Brasil é o dilema tradição x modernidade. Uma espécie de fla-flu torto, pois na verdade podemos torcer para os dois, como ouvintes. Mas quem faz música é logo enquadrado: tradicionalista ou vanguardista. Como se pudesse existir vanguarda sem tradição...

O que se convencionou chamar de “tradição” em nosso país é o samba, o choro, os ritmos folclóricos, e o grande divisor do século XX, a bossa nova. Claro que a BN foi vanguarda por pelo menos uma década, antes de ter essa bandeira arrebatada pelo tropicalismo (que nunca deixou de reverenciar a tradição, aliás).

A crescente massificação dos meios de comunicação (principalmente a TV), nos anos 60, levou à uma onda de internacionalização musical que veio para ficar. O rock já é um senhor com mal de Alzheimer, o pop eletrônico já ultrapassa a segunda geração. E como ficam os jovens músicos praticantes de música brasileira?

Alguns não conseguem realmente sair do bem feitinho. Outros, nem isso. Há os dominam as formas existentes com maestria, mas não ousam. Excelentes jovens chorões e sambistas estão por aí, para mostrar que a tradição continua viva.

Todo esse preâmbulo é pra falar da surpresa que significa a audição do grupo Casa 7. Quatro jovens de diferentes origens, ex-alunos da Universidade Estadual de Campinas, que praticam uma... nova bossa? Samba-jazz? Canção moderna?

A base é o samba sincopado, sem dúvida. Mas traduzido em voz (Luisa Toller), violão/guitarra (Caetano Ribeiro), baixo (Daniel Coelho) e bateria (Dhieego Andrade). Uma formação compacta, coesa, e de extraordinária musicalidade.

Apesar de jovens, já tocaram com gente do calibre de Nelson Ayres, Tom Zé, Nenê e Arrigo Barnabé. Gravaram composições próprias e de outros jovens compositores. Nota-se a influência de Elis, César Camargo, Milton, Dori Caymmi (que, aliás, elogia abertamente o grupo), Chico Pinheiro e os craques com quem tocaram (mais Ayres/Nenê que Tom Zé/ Arrigo, certamente).

A sonoridade também é próxima do som de Izabel Padovani (vencedora do Prêmio Visa 2005 de Música Brasileira), que faz participação especial no CD. Outra influência é o guitarrista e arranjador Marcus Teixeira (tocou com Gal Costa, Cristóvão Bastos, Zélia Duncan, Fátima Guedes, Rosa Passos e mais um monte de gente), que fez a direção musical do disco.

O CD do Casa 7 saiu sem muita divulgação, e o grupo vai fazendo shows aqui e ali. Mas o CD já rola na rede, e pode ser baixado aqui (http://umquetenha.org/uqt/category/casa-7/). Para quem gosta de música brasileira moderna e eterna, de arranjos límpidos e criativos, de um vocal afinadíssimo e de composições que passam longe da mesmice de três acordes, é uma delícia!