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A música do maestro Tom. E a batuta do mestre Nelson

Por Luís Pimentel - 01/02/2012

Certos criadores nos dão a impressão de que são bons porque os são; que não precisam fazer grandes esforços para exercerem a sua arte. Mas é claro que é só impressão, e essa é exatamente a impressão que invade a quem assiste ao delicioso “A música segundo Antônio Carlos Jobim”, de Nelson Pereira dos Santos. Durante todo o filme é a obra do grande e soberano maestro quem nos embala e conduz. O encantamento dessa trilha sonora, seguramente a dos melhores dos nossos dias, fica a cargo de um gênio do cinema: o nosso imortal (no melhor dos sentidos) Nelson Pereira dos Santos.

Narrativa? Documentário? Um musical? O que é este filme? Como nos disse Cacá Diegues, é uma obra que conta “a história de um dos gênios brasileiros do século 20”. E mais: “É como se todos nós tivéssemos realizado esse filme”, tamanha a intimidade que o diretor nos leva a ter, tanto com as músicas do filme quanto com o compositor. “A música segundo Antônio Carlos Jobim” é uma passarela sonora por onde desfilam, sem importar a ordem de entrada em cena, grandes nomes da música internacional e brasileira – todos cantando, interpretando, traduzindo ou se deliciando, em algum momento de suas vidas, com melodias do nosso Tom.

Só para ficar nos brasileiros, que é a nossa praia, quem está no cinema pode deixar o coração aplaudir gente como Agostinho dos Santos, Alaíde Costa, Eliseth Cardoso (que canta acompanhada por João Gilberto), Silvinha Teles, Elis Regina (dividindo com o maestro a eternizada interpretação de “Águas de março”) e Milton Nascimento, além de Adriana Calcanhoto, Nara Leão e Miúcha (co-autora do roteiro). E outros. Muitos outros. Também são inúmeras as celebridades estrangeiras que reverenciam Tom Jobim por intermédio de suas músicas. Entre eles, Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Judy Garland. É pouco?

O filme de Nelson Pereira não tem falas, nem desabafos, nem explicações. Muito menos legendas. Só esta, no final, antes de descer os créditos: “A linguagem musical basta”. Quem a assina? Antônio Carlos Jobim.