Artigos

A mulher por trás da canção

Por Marcio Paschoal (*) - 25/01/2015

Um boa ideia, recheada com histórias curiosas, foi o projeto da jornalista Rosane Queiroz, “Musas e Músicas” (Editora Tinta Negra ) pesquisando e revelando os bastidores das mulheres que inspiraram grandes compositores da nossa MPB. Há muita gente que gostaria de saber a origem e o paradeiro de algumas dessas musas, como a Anna Julia dos Los Hermanos, ou a Amélia do Mário Lago.


Mulheres de verdade ou não, quase ficcionais, essas moças encantaram seus autores e criadores. Como a morena Fátima, que vendia ácido no trânsito, durante os loucos anos setenta, mais conhecida como “Espanhola”, de Guarabyra e Flavio Venturini.
Outras remetem ao mais prosaico, como Madalena, que era Vera Regina, ex-namorada do parceiro Ronaldo Monteiro de Sousa. Algumas são pirações, como a Ligia de Jobim, uma professora do primário que amedrontava o maestro com seus penetrantes olhos castanhos. Mais pirada ainda, a Godiva do Irajá, poderosa Katia Flavia, do Fausto.
Interessantes as que eram autênticas declarações de amor cifradas, como a que Luiz Melodia fez à moça que não queria desmanchar com seu namorado, a tal Pérola Negra.


E por aí vamos, desfiando criaturas e criadores. Algumas jamais existiram, a não ser na cabeça dos seus autores, como a morena dos olhos d’água do Chico Buarque; a Sandra Rosa Madalena do Magal; a Bete Balanço do Cazuza (não, não se tratava da Deborah Bloch); a menina veneno (recentemente revivida pela Venina da Petrobrás) ou a morena tropicana do Alceu. Tudo imaginação.


Há as letras declaradas, quesito em que Caetano Veloso se destaca. “Vera Gata” para Vera Zimmerman, “Rapte-me, camaleoa”, para Regina Casé etc. A polêmica ficou com “Tigresa”, que dizem ter sido feita para Sonia Braga e outros garantem que foi para Zezé Mota. Na verdade, Caetano assegura que foi apenas uma colagem de várias mulheres que conhecia. Nada demais.


Um livro que pode interessar aos amantes da MPB e aos curiosos que querem saber um pouco mais sobre os mistérios das mulheres cantadas em verso e prosa, aqui e ali ou em qualquer lugar. Afinal, Amélia era mesmo uma mulher de verdade?


(*) escritor, autor da biografia de João do Vale