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As muitas cordas do Duofel

Por Daniel Brazil - 22/01/2007

O violão é o instrumento mais popular do mundo. Harmônico ou solista, alia versatilidade, extensão sonora e riqueza de timbres, além da facilidade de transporte. Vai do acampamento ao conservatório, da praia à sala de concertos, sem precisar de acessórios.

Para alguns povos, o violão é emblemático de um estilo. Quando falamos de violão espanhol, por exemplo, identificamos um modo característico de tocar, o flamenco. No Brasil essa classificação é mais difícil. Pode-se afirmar que o choro determinou um estilo violonístico, mas não é o único. Temos o samba, a seresta, a bossa nova, os vários gêneros regionais, além dos “estilos” Baden, Benjor, Gismonti e outros inventores.

Fernando Melo e Luiz Bueno, criadores do Duofel, já merecem o título de criadores de uma linguagem própria pra violões. Em 28 anos de carreira, desenvolveram uma sonoridade única, marcada pela inusitada combinação de ritmos, pela vibrante interpretação e pela exploração de novos timbres. Além de tocar vários tipos de violão (nylon e aço, 6 e 12 cordas, tenor, além da viola caipira), incorporam o arco de rabeca às execuções.

Como o arco “normal” não pode alcançar as cordas centrais do violão, utilizam um pequeno arco de madeira, o zig zum, que inserem entre as cordas, friccionando-as. O resultado é fantástico, não só pela sonoridade, mas pelo forte apelo cênico do artifício. Nos shows do Duofel a platéia fica fascinada pela maneira incomum com que a dupla tirar som dos instrumentos.

A pesquisa sonora do Duofel inclui a utilização de sutis efeitos controlados por pedal. Os violões são sempre acústicos, mas pequenos efeitos de eco e vibrato expandem as possibilidades de forma criativa e original. Mas não se imagine por isso que se trata de música experimental, atonal ou concreta, só acessível para eruditos. Desde os primeiros discos da dupla essa mistura de elementos é desenvolvida, juntamente com o lado composicional e interpretativo, misturada a uma boa dose de lirismo melódico, de eufonia cativante.

Com carreira internacional estabelecida, o Duofel talvez seja hoje o melhor representante do violão brasileiro de invenção, sintonizado com as correntes universais da música, mas sem perder a referência nativa. Embora tenham se conhecido numa banda de rock, a afinidade da dupla se definiu em torno do som acústico brasileiro, influenciado por Egberto Gismonti e Hermeto Paschoal. Volta e meia aflora, nas composições, a origem paulista de Luiz Bueno ou a alagoana de Fernando Melo, trazendo choros, toadas, modas caipiras ou forrós trepidantes, compostos e arranjados de forma virtuosa.

Com vários discos em catálogo, em duo ou acompanhados por outros músicos, o Duofel virou referência. Seus shows cativam platéias de várias gerações. As apresentações mais recentes aprofundam e renovam a sensação de que este país tem uma diversidade violonística tão grande que não dá comparar com nenhum outro. Sorte nossa!