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Lira Paulistana, 30 Anos

Por Daniel Brazil - 14/12/2009

Novembro de 79 é o marco histórico de fundação do Lira Paulistana. Beleléu, o disco de estréia de Itamar Assumpção, marcou o início do selo (porque já era um conhecido teatro, espaço cultural, palco de shows e agitos). O porão da Praça Benedito Calixto marcou uma espécie de Renascença da música paulista, abrindo espaço para vários estilos.

Final de ditadura, fim dos movimentos organizados em torno de uma militância estética. O leque se abria, em várias direções. Tinha a música experimental de Arrigo, que nunca tocou no Lira, mas cujo baixista era Itamar. As cantoras Ná Ozetti, Cida Moreira, Vânia Bastos, Eliete Negreiros, Suzana Sales, Neuza Pinheiro, Tetê Espíndola e Virginia Rosa passaram por lá, colorindo ainda mais a paleta de estilos. Tiago Araripe (Cabelos de Sansão) fazia um pós-tropicalismo com uma nova poética, que viria influenciar gente como Zeca Baleiro. Tanto é que o maranhense fez questão de relançar o “Cabelos” em CD, pelo seu Saravá Discos (2009). Aliás, um disco que merece ser (re)descoberto e (re)ouvido, atemporal e inovador.

Tinha o humor escrachado do Língua de Trapo. Tinha o Premê, com um lado musical mais desenvolvido. O grupo Rumo, com um lado mais intelectual de pesquisa musical, seja estudando os antigos, seja construindo uma nova forma de canto falado. O mentor Luiz Tatit, a musa Ná Ozetti, e os talentosos músicos que iriam criar posteriormente os mais consistentes trabalhos na área da música infantil, como Paulo Tatit (Palavra Cantada) e Hélio Ziskind (Meu Pé, Meu Querido Pé).

E teve a viola de Passoca, os sons valeparaibanos do Grupo Paranga, o rock dos primeiros integrantes dos Titãs e UItraje a Rigor. Até o Ira! passou por aquele palco, assim como os Inocentes, pioneiros punk de Sampa. E tinha o instrumental do Pau Brasil, do Nelson Ayres, o piano de Amilson Godoy, o trombonista Bocato, o percussionista Zé Eduardo Nazário, o multi Skowa, os latinos Raíces de America, as cordas do Duofel.

Um dos fundadores do Lira, Riba de Castro, está finalizando um documentário sobre este redemoinho musical que marcou a música dos anos 80 e influencia até hoje um monte de gente pelo Brasil. São dezenas de entrevistas com músicos, produtores, jornalistas, críticos e os ex-sócios da empreitada. Não sei como Riba dará conta de resumir tudo, mas certamente vem aí um dos mais importantes documentos da moderna música popular brasileira. Quem viver, verá. Quem viveu, reverá!