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Kleber e Rubi, união de talentos

Por Daniel Brazil - 26/04/2017

Se a música brasileira fosse vista de um ponto geológico, poderíamos dizer que o que há de mais precioso está no subterrâneo. Ultrapassando as águas midiáticas da mediocridade, que encharcam a superfície, encontramos verdadeiras joias como o trabalho de Kleber Albuquerque.
 Compositor e intérprete, Kleber é letrista inspirado (às vezes desconcertante!) e melodista de bons achados. Nascido em Santo André, no ABC paulista, sua obra é uma surpreendente mistura de gêneros, indo do rock até o samba-choro, passando pela música caipira.


Esta última influência é evidenciada em seu novo CD, Contraveneno (Sete Sóis, 2017). Aqui Kleber junta vozes e violões com Rubi, brasiliense de voz rara e sensibilidade apurada. Chamá-lo também de “joia” seria redundância, mas não estaria longe da verdade.
Nascido de uma turnê realizada em conjunto em 2016, Contraveneno foi gravado “ao vivo no estúdio”, com participações especiais de Mario Manga no violoncelo e Rovilson Pascoal no violão e guitarra.


Sob a epígrafe “Canções para desenvenenar corações em tempos tóxicos”, Kleber e Rubi recriam canções modernas e clássicas, fugindo totalmente do lugar comum. O repertório vai da romântica Castelo de Amor, do trio Parada Dura, até a hilária Lava Rápido (Wandi Doratiotto), sucesso do extinto Premê, uma homenagem a Mario Manga, fundador do grupo e produtor dos primeiros discos de Rubi e Kleber.


Há várias canções autorais de Albuquerque, como Procura no Google, Papai Noel Tomou Gardenal, a bela Milonga da Noite Preta ou a tocante Geração. Sua parceria com Flavvio Alves rende duas canções, Cerol e Contraveneno. Com Tata Fernandes temos a sofisticada Ai. E entram algumas reinterpretações de terceiros, com destaque para a deliciosa Eta Nois, de Luli e Lucina.


A afinadíssima dupla parece se divertir muito com o repertório, e transparece prazer em cada compasso. Idealizaram um disco gostoso, inteligente e muito, muito acima dos “tempos tóxicos” em que vivemos.