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A guerreira Leci Brandão

Por Luís Pimentel - 18/09/2007

São quase quatro décadas de luta sem trégua – punhos fechados e dedos abertos nas cordas do pinho – em defesa da música popular brasileira. E também do samba mais legítimo, dos sambistas idem, da vida das escolas de samba e de seus componentes, do direito do artista brasileiro produzir, mostrar suas produções e viver delas.

Leci veio ao mundo nesta cidade tão cheia de luzes e sombras, brilho e contraste, em setembro de 1944, no dia 12. Criada em ambiente musical, batendo pernas e abrindo a inspiração entre os berços dos grandes sambistas cariocas – Mangueira, Portela e Vila Isabel na linha de frente –, a doce, porém firme Leci foi a primeira mulher a integrar a ala dos compositores de uma escola. No caso, simplesmente a Estação Primeira. Isto foi há 35 anos.

A criadora tímida que veio a se revelar mais tarde uma grande compositora apareceu para o grande público pela primeira vez em 1968, quando ganhou o prêmio do programa A Grande Chance, da TV Tupi. Daí para cá, já lançou dezenas de discos – entre LPs, compactos e CDs. Compondo para ela ou para os outros gravarem, fazendo shows ou comentários em televisão sobre a paixão pelo samba, ou ainda se dedicando à atuação política, em movimentos ligados à defesa dos direitos humanos e ao sindicalismo, Leci jamais negou fogo nem fez fumaça gratuita.

Como nenhuma guerra é à toa, às vezes fica longos períodos sem lançar discos, na queda de braço de sempre entre artistas com cara de independente e o mercado fonográfico com cara de colonizador. Jamais abriu mão da qualidade acima de tudo em sua obra. Sempre soube o que estava fazendo. Por isto, fez sempre por merecer o melhor – inclusive as melhores homenagens e o melhor carinho.