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Geraldo Filme e o novo samba paulista

Por Daniel Brazil - 13/01/2009

Janeiro é mês de ensaio nas escolas de samba de todo o Brasil. Em São Paulo, é um mês onde se misturam alegria e saudade. Foi em janeiro de 1995 que o maior sambista negro paulista, Geraldo Filme, foi animar as rodas celestiais.

Numa terra de imigrantes, de preconceitos exacerbados, onde o samba nunca conseguiu manter a mesma força de suas origens, Geraldo foi um visionário. Assim como Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, procurou se desvencilhar da influência baiana e carioca, percebendo na própria terra sutilezas e acentos que diferenciavam a sonoridade de seu samba.

Nascido na pequena cidade de São João da Boa Vista, no interior do estado, seria um bom compositor caipira se não fosse a forte influência familiar. Aprendeu com a avó os jongos e cantos de escravo que marcariam sua vida. O pai tocava violino, mas a influência materna foi ainda maior. Depois da mudança para São Paulo, ainda Geraldo menino, a mãe fundou o primeiro cordão carnavalesco formado por mulheres negras. A ousadia feminista seria a semente da Escola de Samba Paulistano da Glória, onde Geraldo, já então “Seu Geraldo”, comandou muitas rodas de samba e gafieiras, que viraram ponto de desafogo de muitos estudantes, na época da ditadura.

Ligado desde sempre ao Carnaval, fez sambas-enredo para a Unidos do Peruche, mas será sempre lembrado pela sua dedicação à Vai-Vai (Será que com a nova ortografia vai cair este hífen? E o de sambas-enredo?). Os sambas que compôs para o bairro da escola, são inesquecíveis.

"Quem nunca viu o samba amanhecer,
Vai no Bexiga pra ver, vai no Bexiga pra ver"

Pois neste janeiro de 2009, uma grande homenagem está sendo feita ao grande sambista Geraldo Filme, no Centro Cultural Banco do Brasil, num belo projeto do pessoal da Por do Som (http://www.pordosom.com.br/informativo2007_1.htm).

São apresentações que vão até fevereiro, todas as terças, com nomes representativos do moderno samba paulista. Fabiana Cozza, Quinteto Branco e Preto, Dona Inah, Osvaldinho da Cuíca, o pessoal do Samba da Vela, a turma do Berço do Samba de São Mateus, Graça Braga, Chapinha (que é também o diretor musical da parada), Teroca, os manos do Samba da Laje, o Pagode da 27 e a Velha Guarda da Camisa Verde e Branco. Vale a pena acompanhar a programação do CCBB (http://www44.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr2/sp/DetalheEvento.jsp?Evento.codigo=33107&cod=4) e conhecer, de uma tacada só, o grande Geraldo Filme e as novas vozes do samba paulista.