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Fabiana Cozza cai no samba

Por Daniel Brazil - 07/11/2007

Fabiana Cozza não é fácil de explicar. A morena bonita, de presença imponente e voz possante, tem o dom anunciado por Wilson das Neves, que virou título de seu primeiro disco (O Samba É Meu Dom). Nasceu pra ser diva, e talvez seja a mais impressionante figura feminina do samba desde Elizeth Cardoso. Não é à toa que foi a pessoa certa no lugar certo ao cantar com o Zimbo Trio, este ano, no show-homenagem “O Fino do Fino’, no Teatro Municipal de São Paulo.

A mistura de simpatia com talento é arrasadora no palco. Domina todos os truques e trejeitos, fecha os olhos e “baixa” o espírito criador de cada canção, envolvendo qualquer platéia no seu campo magnético.

É quase impossível transpor essa personalidade para a frieza digital do CD. Fabiana é pra se ver, sentir o calor. A experiência acumulada em teatro, corais e palcos diversos é decantada com uma intuição quase felina. Fabiana é, definitivamente, um bicho de cena.

No trabalho anterior abriu o leque de estilos, como se precisasse provar que podia cantar qualquer coisa. No novo CD (Quando o Céu Clarear, Eldorado, 2007), fechou o foco no samba mais puro, com ecos da África ancestral, sem medo de parecer purista ou acadêmica.

Certa de suas escolhas, entrega cada canção como alguém que divide uma fruta saborosa, para quem a modernidade não passa de uma brisa ocasional. A produção e os arranjos do baixista Marcos Paiva acentuam a “mão de preto no couro”, mas exploram também a multiplicidade de timbres que se sofisticaram nos contatos d’aquém mar. Teclados e sopros acrescentam nuances, com destaque para os toques cubanos do pianista Yaniel Matos e o trumpetista Julio Padrón.

As canções soam como novas, mesmo quando se tratam de obras consagradas de Baden Powell, Dona Ivone lara, Délcio Carvalho, Jorge Aragão, Nei Lopes ou Nelson Sargento. Apenas Nação, da dupla Bosco-Blanc soa mais respeitosa ao original. Felizmente, cantar o baiano Roque Ferreira está virando uma moda saudável entre as novas cantoras, assim como iluminar novos compositores como o paraense Leandro Medina e os paulistas do Quinteto Branco e Preto.

Fabiana deve ser vista e ouvida ao vivo, muitas vezes. Se não for possível, ouça este CD, mas observe que o volume deve ser alto e a qualidade de reprodução, perfeita. Só assim poderá sentir a força de sua presença musical arrebatadora. Ouvir Fabiana em radinho de pilha é como tentar observar uma pantera ao microscópio. Nem tente.