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Documento em forma de improviso

Por Marcelo Pacheco - 18/02/2010

Publicado originalmente na Caixinha de Música (www.caixinhademusica.com)

Almanaque pode ser um documento que fala do que já passou. Registro de uma época com detalhes, números ou estatísticas sobre um ou muitos assuntos, cuja única ligação com o presente é a de informar. Letras frias numa página de consulta prontas para servir de referência. Mas e quando eles são atualizados? E quando essas referências se encontram com novas tendências e interpretações sobre o mesmo tema? Temos aí uma reedição. Um novo almanaque pronto para receber verbetes fresquinhos e continuar vivo.

O produtor e radialista Edison Viana pensou da mesma forma e inaugura em 23 de fevereiro, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-Rio), o Almanaque do Samba-Jazz. Em seis shows ele vai promover o encontro das várias gerações de instrumentistas do gênero que consolidou o instrumental brasileiro moderno: “A música dos mestres e dos novos talentos reunidos no CCBB é que conta melhor esta história. É emocionante ver septuagenários ainda em atividade, tocando com igual entusiasmo meio século depois, e assisti-los ao lado de artistas que têm carreiras mais recentes e procuram dar continuidade àquele som vibrante”, diz o curador, explicando a ideia contida no título da série.

Aparentemente distantes, o samba e o jazz são mais próximos do que sonha nossa vã filosofia musical. Basicamente com as mesmas origens, os dois se encontraram no registro de uma gravação de 1951, na qual o saxofonista norte-americano Bud Shank improvisava os temas do violonista brasileiro Laurindo Almeida. O disco Braziliance abriu caminho para uma outra turma de instrumentistas que misturavam chiclete com banana e muito improviso: Altamiro Carrilho, Sivuca, Maestro Cipó e Raul de Souza, entre outros, gravaram o antológico A Turma da Gafieira, ponto de partida para a reviravolta que aconteceria na MPB no final da década de 1950.

Para esse Almanaque só foram recrutados craques: João Donato é o convidado da estreia, no próximo dia 23, recebido pelo Copa 5 – o conjunto que acompanhava o saxofonista J. T. Meirelles, um dos pioneiros do gênero, falecido em 2008. Em 2 de março, o quinteto de Hamleto Stamato divide o palco com o trombonista Raul de Souza. No dia 9 quem se apresenta são Henrique Band (foto acima) e o super Antonio Adolfo, atualmente radicado em Miami. No dia 16, Paulo Moura reforça o som do trio liderado pelo jovem pianista David Feldman. Em 23 de março, o gaitista Mauricio Einhorn se junta ao Sambajazz Trio. E para encerrar a série foi criada a Almanaque Samba-Jazz Band (Rafael Vernet no piano, Guto Wirtti no baixo, Eduardo Neves nos sopros e Rafael Barata na bateria) que vai somar fôlego com o saxofonista argentino Hector Costita.

Com repertório pinçado dos clássicos long plays de samba-jazz (apareça para ouvir “Quintessência”, de Meirelles, “Nanã”, de Moacir Santos e Mário Telles, e “Embalo”, de Tenório Júnior) e standards da bossa nova, Almanaque do Samba-Jazz é certeza de diversão ao som de um balanço sofisticado.

CCBB-Rio (Rua Primeiro de Março, 66, Centro do Rio de Janeiro)
Todas as terças-feiras, de 23 de fevereiro a 30 de março de 2010
R$ 6, com meia-entrada (R$ 3) para estudantes e maiores de 65 anos