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Delicadeza vital de Socorro

Por Luís Pimentel - 23/04/2013

Um disco que tem por nome “Delicadeza”, em que todas as canções têm por títulos “Delicadeza”, da I à XIII, seguidos de subtítulos delicados como “Casa e janela”, “Modinha para uma viola sem conserto” ou “Remendo de pano feio” leva a gente, imediatamente, a ouvi-lo com predisposição muito especial.


A paraibana sertaneja de Brejo do Cruz, Socorro Lira, se coloca neste CD como uma das vozes mais autorais e vigorosas da música brasileira atual. Responsável por todas as músicas e letras deste projeto (continuação de uma carreira discográfica que começou em 2003, com o já delicado “Cantigas do bem-querer”), Socorro escreveu no encarte de seu disco que “Ser delicada é muitas vezes mais difícil”.


Autora de letras de densidade poética (“Deu-se uma coisa tão linda!/Bem-vinda!/Eu disse: bem vinda!/Foi me tomando de abraço/Ajuntou-me com um laço/De delicadeza infinda”) e melodias revestidas de desconcertante suavidade, a autora nos diz ainda que “Nesse nosso tempo de ruído excessivo e super valorização das coisas externas, de guerras infindas e endurecimento, a canção pode ser um meio para se falar ao coração das pessoas e se chegar mais dentro”.


É exatamente esta a sensação que fica após audição de “Delicadeza”: que mais do que os ouvidos, o coração ouviu alguma coisa. E prestou muita atenção. A presença de músicos bem afinados com a proposta do CD, o carisma de Socorro e a participação muito especial do bom cantor João Pinheiro são pontos de equilíbrio para um trabalho dos mais equilibrados.