Artigos

Conjunto Farroupilha: a sintonia fina do país

Por Gerdal J. Paula - 09/11/2015

Ao adotar, em 1948, o nome da rádio que os acolhia - a de maior audiência no Rio Grande do Sul naquela década e na seguinte -, o Conjunto Farroupilha (fotos abaixo) dava início a uma trajetória de sucesso que o tornaria nacional e internacionalmente conhecido.

Todos gaúchos no todo original - Alpheu Azevedo, Danilo Vidal, Estrela Dalva, Iná Bangel e Tasso Bangel (irmão desta, maestro e arranjador do grupo vocal) -, dedicaram-se, a princípio, a uma exaltação autóctone, com temas caros à querência pampiana, evidente, nos anos 50, nos seus primeiros discos (o "número um", aliás, "Gaúcho", em 1953, do selo Rádio, um raro dez-polegadas em meio à então predominância do 78 rpm).

Cinco anos depois, com endereços fixos em Sampa e, sem mais o Alpheu, já com o paulistano Sidney Morais na formação - este, mais adiante, integrante do conjunto Os Três Morais com os irmãos, Roberto e Jane (da dupla Jane e Herondy), e, como Santo Morales, "cantante" de boleros bem-sucedido no México -, gravariam "Os Gaúchos na Cidade", de 12 polegadas, em que, sem deixar de lado - como nunca deixaram - a tradição gaúcha, abriam-se para o samba-canção e até flertavam com a incipiente bossa nova. No cinema, em longa dirigido e protagonizado por Mazzaropi, podiam ser vistos em "As Aventuras de Pedro Malasartes", um dos cartazes da diversão popular em salas nacionais do ramo em 1960.

Aquela uma época em que, na tevê, foram atração com programa próprio apresentado na Record e, para reiterado giro na vitrola, lançaram em 78 rpm de 1963 uma versão marcante, "Papai Walt Disney", antecedida pelo elepê "Aí Vem a Marinha", de 1961, com participação da banda da Marinha Brasileira e lindas orquestrações de Lyrio Panicalli - também em 1963, hoje um item de colecionador, "Os Farroupilhas', todo moldado por bossa e balanço (este um elepê em etiqueta própria, Farroupilha, pela qual estreariam no mercado, pouco depois, os pianistas Pedrinho Mattar e José Roberto Bertrami - ainda pré-Azymuth, liderando o conjunto Os Tatuís -, além dos Poligonais e do Jongo Trio). Ainda no repertório do harmônico Farroupilha, pelo canto suave e impecavelmente entrosados, sem disfarçar o sotaque de origem, dar-se-ia a incorporação de músicas estrangeiras, decorrente, desde os anos 50, de longa sucessão de viagens por força de associação com o Ministério das Relações Exteriores e patrocínio da Varig. Numerosos shows nos quais sempre entoavam uma canção significativa do país visitado, além de nele representar a nossa por recorte regionalista, pelo sentimento sulino - até fizeram parte, em 1958, de famosa excursão à Rússia, ao lado de Dolores Duran, Nora Ney, Jorge Goulart e Maria Helena Raposo.

A convite de Rolando Boldrin, tiveram, em 1983, pela Globo, após longo afastamento de palco e estúdio, uma de suas últimas aparições em público, no "Som Brasil" - com Tasso, Danilo e Estrela Dalva mais Norma Nagib e Sabá (ex- Jongo Trio e Som 3) -, da qual o derradeiro disco resultaria: o elepê "Farroupilha 35", com produção do referido ator, apresentador e autor de "Vide Vida Marvada".