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Coletâneas oportunas e oportunistas

Por Marcio Paschoal (*) - 25/04/2014

A recente incorporação do catálogo fonográfico da EMI à gigante Universal vem rendendo alguns frutos. Amadurecidos com o tempo, uns de boa cepa e outros podres, todos na mesma colheita oportuna. A fórmula escolhida parece ter sido a das coletâneas da hora.
 

O fruto da vez reúne os sucessos da cantora Sylvia Telles, um dos ícones da bossa nova, inspiradora de Elis e que teve carreira interrompida bruscamente num acidente de automóvel em Maricá (1966). Sylvinha, uma das primeiras cantoras a incorporar o jazz à bossa nova, deixou sua marca na nossa música popular. O CD “Sylvinha Telles – Eu e Você” reúne 14 canções, de “Lobo bobo” a “Eu sei que vou te amar”. Clássicos jobinianos predominam: com Dolores Duran (Estrada do Sol), Vinicius de Morais (Se todos fossem iguais a você) e Aloysio de Oliveira (Dindi). Destaque também para os nostálgicos duetos, com Luiz Bonfá, em “Perdido de Amor” e Lúcio Alves, em “Este seu Olhar/ Só em teus braços”. Para os fãs da cantora e àqueles que pretendem pesquisar o momento de eclosão da bossa nova mais descompromissada e romântica.
 

Outro CD da leva tem Frank Sinatra, que pode ser colocado acima do bem e do mal. Pensando nisso, o disco “Sinatra with Love”, que reúne 16 fonogramas do cantor onde prevalecem as gravações dos selos Capitol e Reprise. “Moonlight becomes you”, “It could happen to you”, “The look of love” e “My foollish heart” mereceram a seleção, assim como o clássico “Wave” do maestro Jobim, com arranjo de Eumir Deodato.
 

O lado escuro da ideia, ou seu fruto mais apodrecido, é a coletânea “Um Barzinho um Violão, Novelas - Selo 2”. Formato já desgastado e de inegável apelo comercial (haja vista ser o segundo volume), o CD expõe seus limites maiores, com a proposta acústica malhada, se apoiando em hits novelísticos. E por aí desfilam Tiaguinho cantando Sá & Guarabira, Michel Telo de Djavan ( anacrônico, melhor seria Um Barzinho e Um Acordeom), Ivete Sangalo ( a cantora não tem culpa da péssima gravação com percussão) em Guilherme Arantes, e Alexandre Pires repetindo Fábio Jr, recriando canções que fizeram sucesso em novelas globais. Ainda assim, algumas faixas escapam da mediocridade abrangente. O caso de “Muito Estranho” de Dalto e Cláudio Rabello, com Toni Garrido, “No Rancho Fundo” de Ary Barroso e Lamartine Babo, com Paula Fernandes e “As Vitrines” de Chico Buarque, com Vander Lee.

(*) escritor, autor da biografia de João do Vale