Revista Música Brasileira

Caetano Veloso, que entende do assunto desde que o samba é samba, escreveu que o estilo delicioso de Pedro Miranda (já disse e já escrevi que ele é a mais perfeita tradução, em voz, que o gênero merece e poderia receber) é “sem afetação, sem tiques nenhuns, dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao canto popular brasileiro”. Não é pouco.

Em seu mais recente CD (o melhor), Pimenteira (independente), Pedro Miranda justifica as palavras certeiras do bom baiano (e as de todos os outros craques que já se derramaram em elogios a ele), colocando na praça uma coleção de obras primas, defendidas por uma voz a cada dia mais primorosa. Pule de dez, desde já, para melhor disco do ano, a antologia de grandes compositores brasileiros cresce em elegância e harmonias na interpretação irretocável do sambista.

Desde que começou a distribuir palinhas nas apresentações do Grupo Semente ou em discos de outros artistas, Pedro obrigou olhos e ouvidos do público fiel da MPB a prestarem atenção redobrada: surgia, sem dúvida nem alarde, um nome para enriquecer a galeria de bambas na qual permanecem cativos como Cyro Monteiro, Roberto Silva, João Nogueira, Roberto Ribeiro, Paulinho da Viola e mais uns poucos.

Bom cantor, bom músico e pesquisador atento, Pedrinho mostra também o quanto é importante conhecer o que há de melhor naquilo que se faz. Daí o repertório unindo criadores de cadência própria e tendências e idades variadas.

Do antigo sucesso Helo, my girl, do esquecido Silvio Silva, a canções inéditas da turma des gerações mais novas, como Edu Krieger, Moyses Marques e Pedro Amorim, aos mestre Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Nei Lopes e Paulo César Pinheiro, Pimenteira (título da faixa que é contribuição luxuosa do imbatível rei da chula e do samba-de-roda, o poetaço do Recôncavo baiano Roque Ferreira) é uma legítima ode à canção, ao samba e à alegria de cantar (para nós, de ouvir).

Eis aí um legítimo Pedro Miranda. Seguramente, no melhor dos seus dias.