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Coisa de mulher é coisa séria

Por Luís Pimentel - 06/06/2012

Esse é um disco feito em atmosfera feminina, à luz da mais delicada inspiração, leveza e progesterona capazes de mostrar o que a baiana, as cariocas, paulistas, mineiras ou brasileiras têm.

Em “Coisa de mulher” (independente), a cantora Ana Rita celebra quase um século de voz feminina na composição da música popular brasileira, desde quando Chiquinha Gonzaga (1847-1935) compôs, para o teatro de revista, a melodiosa e poética (“E quantas vezes lá no céu me aparecias/a brilhar em noite calma e constelada”) Lua branca – aqui interpretada com reverência estilística e acompanhamento à medida de baixo, violão, percussão, teclado e bongô.

De Chiquinha até Joyce – presente com uma parceria das mais felizes de sua carreira, com os versos de Paulo César Pinheiro chegando à perfeição do enquadramento com sua melodia de Outras mulheres – Ana Rita passeia por canções de Dolores Duran (Estrada do sol, dela com Tom Jobim), Alaíde Costa (Amigo amado, com Vinicius de Moraes), Sueli Costa (a comovente Coração ateu), Fátima Guedes (Flor de ir embora), Maysa (Ouça, que é prato e copos de resistência da admirável cantora e compositora), Martinha (com o hit dos saudosos tempos do iê-iê-iê Eu te amo mesmo assim), Isolda (a preferida de Roberto Carlos, chegando com uma das preferidas do rei, Outra vez), Anastácia e a linda Eu só quero um xodó (feita com Dominguinhos, claro) e a diva Done Ivone Lara, de quem Ana recolheu Acreditar, obra-prima da safra de parcerias com Delcio Carvalho.

No encarte do CD (cujos arranjos discretos e competentes são todos de Fábio Coelho), a boa intérprete de almas Ana Rita, que canta como se estivesse em uma rede, contemplando a luz de junho (a mais bonita do interior baiano), dedica o seu trabalho “às mulheres que abriram caminhos, conquistaram direitos e possibilitaram a expressão do espírito feminino na arte e na vida”.

Ana é também responsável pela escolha de repertório, concepção de projeto e produção geral de seu disco. O esforço só poderia resultar mesmo num trabalho sério e muito digno, que merece ser conhecido, descoberto, ouvido. Para contato com a artista: www.anaritacanta.com.br.