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Calma, violência, calma

Por Marcio Paschoal (*) - 18/02/2016

Depois de um tempo de férias, viajando pela Índia e Estados Unidos (entre outros lugares), em companhia da mulher, a artista plástica Márcia Xavier, Arnaldo Antunes aproveitou o período sabático para compor a maioria das canções desse seu novo CD (Já é), o décimo-sexto de sua carreira-solo.

Produzido por Kassim, principal responsável pela sonoridade moderna a que o disco remete, Antunes mostra seu lado menos rock´roll. Somente duas das quinze faixas são roqueiras: “O metereologista” e “Na fissura”. Há uma tentativa bossanovística em “Saudade Farta” e acerto numa das canções que mais simbolizam a sua atual fase, o mantra “Aqui onde está”, em parceria com Márcia. Arnaldo justifica que andou precisando de uma retirada de cena, um instante mais calmo, onde pudesse refletir e pensar. Isso fica evidente na letra de “Antes”, uma série de avisos e toques. Meio simplista e pragmático, mas tem sua indicação.

Outro bom momento é “Dança” com a amiga Marisa Monte, em que se destaca o arranjo, com Kassin no lap steel, Pedro Sá na guitarra e Marcelo Jeneci nos teclados.
O melhor do CD, ou melhor, seu momento estelar, está com duas canções em sequência: “As estrelas sabem”, com Zé Miguel Wisnik e “As estrelas cadentes”, com Ortonn.
A primeira é mais melódica, com perfeito entrosamento do piano de Wisnik e o violoncello de Jacques Morelenbaum. Enfim, um disco que traz algumas boas letras, um convite à contemplação e um modelo de privilegiar calma e reflexão, já que tudo está mesmo muito rápido e esquisito por aqui.
(*) escritor, autor da biografia de João do Vale